O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa Selic em 12,75% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2025, em Brasília. A decisão foi anunciada após dois dias de reunião no prédio-sede da autoridade monetária, com divulgação imediata do comunicado e das projeções macroeconômicas.
O Copom justificou a manutenção pela combinação de desaceleração da inflação e sinais de perda de dinamismo da atividade econômica, reduzindo a necessidade de aperto adicional. A ata ressaltou que a inflação projetada para 2026 recuou 0,8 ponto percentual, o que pode dar margem para flexibilização graduada no próximo ano.
Selic Permanece em 12,75%; Decisão Ocorreu por Maioria de 6 A 1
O Comitê decidiu por maioria manter a taxa básica em 12,75% ao ano, com seis votos a favor e um voto contrário pelo aumento. O voto divergente pediu ajuste de 25 pontos base, citando risco de pressões inflacionárias vindas do setor de serviços. A decisão reflete avaliação de que o ciclo de aperto monetário, iniciado em 2021, alcançou níveis compatíveis com controle da inflação.
A justificativa técnica citou desaceleração das leituras recentes do IPCA e a convergência das expectativas de mercado. O comitê observou também a trajetória de preços administrados e a desaceleração do núcleo inflacionário. Esses elementos ajudaram a compor o entendimento majoritário pela estabilidade da taxa no encontro final do ano.
Projeção de IPCA 2026 Recua 0,8 Ponto; Meta de 3% Segue Desafiante
O Relatório Focus incorporado ao comunicado mostra que a mediana das projeções de inflação para 2026 caiu 0,8 ponto percentual desde a reunião anterior. A nova projeção coloca a inflação no ano seguinte mais próxima do centro da meta, mas ainda acima do objetivo formal em alguns cenários. O Copom destacou que a convergência das expectativas é um sinal positivo para a ancoragem de preços.
Comparado com o consenso de três meses atrás, a redução foi de 1,2 ponto percentual nas expectativas para 2026, refletindo efeito combinado da apreciação cambial e desaceleração da demanda. Analistas do mercado interpretaram a revisão como incentivo para início de cortes graduais em 2026, caso os dados de atividade não surpreendam. O BC, porém, manteve tom cauteloso e condicionou mudanças futuras a evidências sustentadas de queda da inflação.
Dólar Recua 2,1% No Mês; Apreciação Reduz Pressão Importada sobre Preços
Desde o último encontro do Copom, a moeda americana recuou 2,1% frente ao real, segundo dados do mercado interbancário. A apreciação cambial contribuiu para reduzir a pressão de preços de bens importados, influenciando a leitura do comitê sobre o risco de pass-through. O comunicado citou explicitamente o efeito amortecedor da apreciação sobre itens industriais e automotivos.
Especialistas alertam, contudo, que movimentos cambiais podem ser voláteis e dependem de fluxo externo e cenário de juros globais. A ata observou que a combinação de cenário externo mais favorável e fluxo de capitais trouxe alívio temporário. Para 2026, o BC sinalizou vigilância sobre volatilidade cambial e seu potencial impacto sobre expectativas de inflação.
Crescimento do PIB em 2025 Estimado em 0,9%; Atividade Desacelera no Terceiro Trimestre
As projeções macroeconômicas do BC colocaram o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 em 0,9%, uma queda de 0,4 ponto percentual em relação à estimativa de setembro. O recuo reflete dados do terceiro trimestre que mostraram desaceleração do consumo e investimento. A autoridade destacou que a atividade econômica caminha para um ritmo mais moderado no fechamento do ano.
O Copom vinculou a desaceleração a fatores temporários e à retirada gradual do estímulo monetário observada ao longo do ano. A fraqueza do setor de bens duráveis e a redução do ritmo de crédito foram citadas como determinantes. Em relatório, o BC sinalizou que a recuperação em 2026 dependerá de melhora do investimento e de condições de crédito menos restritivas.
Risco Fiscal Elevado; Mercado Exige Ajuste para Evitar Repasse Inflacionário
O comunicado do Banco Central destacou risco fiscal persistente como fator de atenção na estabilidade de preços, citando incertezas sobre gasto público para 2026. O BC ressaltou que deterioração fiscal pode ancorar expectativas de inflação para cima, exigindo resposta monetária. O alerta reforça pressão sobre o governo para apresentar medidas credíveis de ajuste.
Analistas estimam que uma piora fiscal de 1 ponto do PIB poderia incrementar risco de inflação em 0,3 a 0,5 ponto percentual no horizonte de dois anos. O setor financeiro passou a precificar prêmio de risco maior em títulos públicos após debates orçamentários recentes. O BC afirmou que seguiria monitorando o efeito de ventos fiscais sobre curvas de juros e expectativas do mercado.
Núcleo da Inflação Registra 0,4% No Trimestre; Serviços Ainda Pressionam
O núcleo da inflação acumulou alta de 0,4% nos últimos três meses, impulsionado por serviços, segundo indicadores citados pelo Copom. A autoridade apontou que a inflação de serviços, apesar de em desaceleração, permanece em patamares que exigem atenção. O comitê avaliou que a margem para cortes de juros dependerá da tendência sustentada desse componente.
Comparado ao mesmo período de 2024, o núcleo apresenta desaceleração de 0,6 ponto percentual, o que ajuda a explicar a manutenção da taxa. No entanto, o BC frisou que reajustes salarias e hiatos de produto reduzidos podem reverter a melhora. A nota final da reunião deixou a porta aberta para cortes graduais, condicionados à evolução do núcleo e do mercado de trabalho.
Perspectiva: Início de Cortes em 2026 Condicionado a Dados; Calendário Aponta Reunião em Fevereiro
O Banco Central manteve linguagem condicional sobre possíveis cortes, afirmando que reduções na Selic dependerão de dados consistentes de inflação e atividade. A autoridade programou a primeira reunião do Copom em 2026 para fevereiro, quando divulgará novo conjunto de projeções. O tom sugere que o movimento de flexibilização será gradual e guiado por números.
Mercado projeta agora início de cortes a partir do segundo trimestre de 2026, com redução acumulada de 150 pontos base no ano, se os dados seguirem favoráveis. O BC alertou que qualquer sinal de pressão inflacionária reverteria esse caminho. Investidores e agentes econômicos, por ora, ajustam expectativas à nova normalidade de juros mais altos e volatilidade fiscal.
Metodologia e fontes: A reportagem se baseou no comunicado do Copom, ata da reunião, relatórios macroeconômicos do Banco Central e dados de mercado de câmbio e inflação divulgados esta semana. As projeções mencionadas refletem medianas do mercado e cifras publicadas pelo próprio BC no término da reunião.