No cenário atual, em que a desinformação circula com rapidez nas redes sociais, ensinar crianças e adolescentes a reconhecer e combater fake news tornou-se uma tarefa urgente e indispensável dentro da escola. A formação crítica dos estudantes diante do que consomem na internet não é apenas uma prática educativa, mas uma competência prevista pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — especialmente nas áreas de Linguagens e Ciências Humanas.
Segundo a UNESCO, a educação midiática é um dos pilares para o fortalecimento das democracias modernas. Ao promover o letramento digital e incentivar a análise de fontes, a escola contribui para a formação de cidadãos mais conscientes, éticos e preparados para lidar com o excesso de informação.
“A desinformação é uma ameaça à democracia. Ensinar os jovens a lidar com ela é papel essencial da escola”, afirma Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, referência nacional em educação midiática.
Projetos escolares que abordam o tema já estão sendo implementados com sucesso. Um exemplo prático vem do Colégio Estadual Rui Barbosa, no Paraná, onde os alunos do 9º ano criaram um jornal digital colaborativo. A proposta envolveu identificar fake news nas redes sociais, apurar a veracidade das informações por meio de agências como a Lupa e a Aos Fatos, e apresentar os resultados em forma de reportagens multimídia. O projeto foi reconhecido em um prêmio regional de inovação pedagógica.
Como trabalhar o tema fake news em atividades escolares?
O papel da escola no combate à desinformação
A escola tem um papel estratégico na formação de cidadãos críticos e conscientes, especialmente diante do aumento das notícias falsas na internet. Ao incluir o tema fake news nas atividades escolares, o educador contribui para o desenvolvimento do pensamento analítico e da competência midiática dos alunos — ambos previstos na BNCC.
Atividades práticas para abordar fake news em sala de aula
Veja abaixo algumas formas práticas de trabalhar o tema nas disciplinas escolares:
1. Projeto de checagem de notícias
Divida os alunos em grupos e entregue a cada grupo uma notícia (real ou falsa).
Oriente-os a investigar a veracidade da informação usando sites de fact-checking como:
3. Debate mediado com base em notícias contraditórias
Separe duas notícias sobre o mesmo tema, sendo uma verdadeira e outra falsa.
Promova um debate em sala de aula, desafiando os alunos a identificar argumentos inconsistentes, ausência de fontes e distorções.
4. Oficina de criação de fake news (seguida de desconstrução)
Proponha que os alunos criem uma notícia falsa (com criatividade), e em seguida, desconstruam o próprio texto, explicando como ele pode ser desmentido com pesquisa, fontes e dados.
Quais recursos utilizar para ensinar sobre fake news?
️ Ferramentas digitais para checagem de fatos
Ao abordar fake news em sala de aula, é essencial apresentar aos alunos ferramentas confiáveis para a verificação de informações. Abaixo, listamos algumas das principais plataformas utilizadas por jornalistas e educadores:
1. Aos Fatos
Plataforma brasileira de verificação de conteúdos virais.
Oferece um robô no WhatsApp que ajuda a checar informações rapidamente.
Possui acervo de matérias desmentindo boatos com base em dados e documentos oficiais.
2. Agência Lupa
Primeira agência de fact-checking do Brasil.
Trabalha com dados públicos, fontes oficiais e técnicas jornalísticas.
Ideal para projetos escolares focados em política, saúde e educação.
3. Fato ou Fake (G1/Globo)
Reúne boatos populares e os compara com fontes oficiais.
Tem interface acessível e pode ser usada por alunos em diferentes níveis escolares.
4. Google Fact Check Tools
Ferramenta do próprio Google que reúne verificações feitas por agências confiáveis.
Pode ser utilizada em pesquisas escolares como alternativa aos resultados comuns de busca.
Fontes confiáveis para pesquisa
Além das ferramentas de checagem, oriente os alunos a buscar sempre fontes oficiais e instituições reconhecidas. Aqui estão alguns exemplos:
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – Dados socioeconômicos e populacionais;
Ministério da Saúde – Informações sobre saúde pública;
UNESCO e ONU – Conteúdos sobre educação, cidadania e direitos humanos;
Jornais de referência – Evitar sites sensacionalistas e priorizar veículos com histórico de apuração responsável.
Dica pedagógica: crie um “painel de fontes confiáveis”
Monte, junto com os alunos, um painel visual (impresso ou digital) com logotipos, endereços de sites e exemplos de fontes confiáveis. Isso ajuda a fixar o hábito de consultar bons conteúdos e reduz a chance de acreditarem em informações duvidosas.
Estratégias para tornar o tema atrativo para os alunos
Adapte o conteúdo à realidade da turma
Para que o tema das fake news tenha impacto real na formação dos estudantes, é fundamental torná-lo próximo do cotidiano deles. Isso aumenta o engajamento e facilita o aprendizado.
Veja algumas estratégias que ajudam a conectar o assunto com a realidade dos alunos:
1. Utilize redes sociais como ponto de partida
Leve postagens reais do Instagram, TikTok ou WhatsApp (com dados fictícios ou anonimizados) e peça aos alunos que analisem:
A fonte da informação;
A presença (ou ausência) de dados confiáveis;
O uso de linguagem sensacionalista;
A intenção por trás do conteúdo (informar, manipular, vender, gerar cliques?).
2. Simule uma “central de checagem” na sala de aula
Divida a turma em equipes com funções definidas: repórteres, editores, checadores, responsáveis por redes sociais.
Apresente a eles uma série de supostas “notícias” e desafie-os a verificar a veracidade de cada uma em tempo real.
No final, peça que publiquem os resultados em um mural, jornal da escola ou canal digital interno.
3. Gamificação: transforme o conteúdo em desafio
Crie quizzes interativos, competições entre grupos ou jogos de perguntas e respostas com base em notícias reais e falsas.
Use plataformas como Kahoot, Mentimeter ou Google Forms para tornar a atividade lúdica e participativa.
Traga elementos da cultura digital e da arte
Os alunos se expressam bem por meio de linguagens visuais e artísticas. Que tal usar isso a favor do aprendizado?
Produção de vídeos curtos no estilo reels ou TikToks explicando como identificar uma fake news;
Criação de charges, tirinhas ou memes que representem os riscos da desinformação;
Peças de teatro ou dramatizações sobre os efeitos de notícias falsas em diferentes contextos (escola, política, saúde, etc.).
Envolva a comunidade escolar
Estender o tema além da sala de aula fortalece o impacto da aprendizagem:
Convide pais e responsáveis para uma oficina sobre consumo responsável de informação;
Promova um seminário interno com a participação de jornalistas ou professores universitários da área de comunicação;
Organize uma “Semana da Informação Consciente”, com atividades voltadas à conscientização sobre o tema.
Como avaliar o aprendizado sobre fake news?
Avaliação formativa com base em competências
Ao tratar fake news como tema transversal em projetos escolares, a avaliação não deve se limitar à nota final, mas sim à observação do desenvolvimento das competências dos alunos. O ideal é utilizar métodos de avaliação formativa, ou seja, que acompanhem o processo e incentivem a reflexão contínua.
Veja como realizar isso:
1. Autoavaliação e metacognição
Proponha que os próprios alunos avaliem sua evolução ao final do projeto.
Perguntas-chave:
O que aprendi sobre checagem de fatos?
Como passei a consumir notícias depois dessa atividade?
Que atitudes mudei em relação ao que compartilho?
2. Rubricas de avaliação por critérios
Crie tabelas com critérios claros que serão observados durante os trabalhos. Exemplos de critérios:
Os alunos avaliam os trabalhos uns dos outros com base em critérios estabelecidos pelo professor.
Isso incentiva o olhar crítico, o respeito pela diversidade de opiniões e o senso de responsabilidade.
Avaliação prática: do conceito à ação
Além da produção escrita, você pode avaliar os alunos por meio de:
Apresentações orais ou vídeos explicativos sobre fake news;
Criação de uma campanha de conscientização com peças digitais ou impressas;
Simulações de reportagens investigativas desmentindo conteúdos falsos;
Criação de podcasts curtos ou reels explicativos com dicas de verificação.
Dica final: valorize o processo
Lembre-se: mais importante do que o resultado final é o processo de construção do conhecimento. Avaliar a evolução do aluno na capacidade de reconhecer fontes confiáveis, questionar argumentos falaciosos e compartilhar conteúdos éticos é o verdadeiro ganho de trabalhar esse tema em sala de aula.
Conclusão: Educar para combater a desinformação é formar cidadãos
Ao incluir o tema das fake news no ambiente escolar, professores não estão apenas cumprindo objetivos curriculares — estão, acima de tudo, preparando os alunos para os desafios da vida em sociedade. Em um mundo repleto de conteúdos virais e opiniões manipuladas, aprender a identificar uma informação falsa se torna uma habilidade essencial à cidadania digital.
A escola tem o poder de transformar a informação em conhecimento e o conhecimento em ação. Quando um aluno compreende a importância de verificar fontes, de não repassar boatos e de refletir criticamente sobre o que consome, ele se torna agente ativo da verdade. Ensinar sobre fake news é, portanto, um gesto pedagógico e ético, que contribui para a construção de uma sociedade mais consciente, justa e bem informada.
FAQ – Dúvidas frequentes sobre fake news e educação
1. Por que trabalhar fake news na escola é importante?
Porque os estudantes estão expostos diariamente a conteúdos falsos nas redes sociais. A escola pode ajudá-los a desenvolver pensamento crítico, reconhecer manipulações e agir com responsabilidade no ambiente digital.
2. Quais competências a BNCC relaciona com esse tema?
A BNCC incentiva o desenvolvimento de competências como argumentação, empatia, responsabilidade, uso ético da informação e análise crítica das mídias — todas alinhadas ao combate às fake news.
3. Que disciplinas podem abordar esse tema?
Fake news é um tema transversal e pode ser trabalhado em Língua Portuguesa, História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Ciências e até em projetos interdisciplinares ou de educação digital.
4. Como tornar o assunto interessante para os alunos?
Utilize exemplos reais da internet, promova debates, dramatizações, checagem de notícias em grupo, criação de vídeos, memes e podcasts. Quanto mais próximo da linguagem e realidade dos alunos, maior o engajamento.