AJUDE O PORTAL | COMPARTILHE EM SEUS GRUPOS
Desde a década de 1950, o Brasil conhece uma forma alternativa de nomear letras do alfabeto, popularmente chamada de “ABC do Nordeste”. A variante, citada na música “ABC do Sertão”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, altera o nome de oito consoantes e segue presente em salas de aula de várias regiões do país.
Você vai Aprender Sobre
ToggleQuais letras mudam de nome
No “ABC do Nordeste”, os novos nomes procuram aproximar‐se dos respectivos sons. Veja as equivalências:
F – fê • G – guê • J – ji • L – lê • M – mê • N – nê • R – rê • S – si
Uso em sala de aula
A professora Leila Lago, da rede municipal de Camaçari (BA), ensina as duas versões, mas afirma que a nordestina é “mais prática” no início da alfabetização por seguir o princípio acrofônico — a letra começa com o mesmo som que representa. “Ensinar guê de gato faz mais sentido do que gê de gato”, diz.
Em Salvador, a colega Ana Paula Capistrano adota a mesma estratégia. Segundo ela, manter a sequência “bê, cê, dê, fê” facilita o reconhecimento pelas crianças. Questionamentos sobre a presença do “E” no início de algumas letras são frequentes, mas, depois de familiarizadas com grafemas e fonemas, as crianças se adaptam.
Reconhecimento oficial
A forma alternativa não é considerada menos legítima. Dicionários como o Novo Dicionário Aurélio registram os dois nomes para letras como G — gê e guê.
Raízes históricas
A pesquisadora Liane Castro “Lica” de Araújo, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), estuda o tema desde 2019. Segundo ela, manuais portugueses do período imperial orientavam que as letras fossem nomeadas de forma mais próxima do som. O material circulou amplamente no Brasil, com apoio do educador Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas.
Embora o “ABC do Nordeste” tenha se espalhado, não há registro de norma que explique por que essa variante se consolidou sobretudo na região. A pesquisadora prepara um livro sobre o assunto.
Por que algumas letras começam com “E”
Parte da investigação de Lica de Araújo busca entender a inserção do “E” em consoantes não oclusivas, como Érre ou Ésse. Pela mesma lógica, as letras V e Z poderiam ter virado Éve e Éze, algo que não ocorreu. A linguista destaca que a coexistência das duas formas é legítima e reflete uma variação cultural de longa data.
Apesar de mudanças pontuais — como a inclusão de K, W e Y em 2009 —, o alfabeto segue combinando as duas nomenclaturas, usadas conforme a preferência regional ou pedagógica.
No fim, professores, dicionários e pesquisadores convergem: conhecer ambas as formas amplia o repertório dos estudantes e revela parte da história linguística do país.
Com informações de g1
